terça-feira, 20 de julho de 2010

ROBIN HOOD.2010

 
 POR: WILLIS DE FARIA

O mito de Robin Hood possui uma larguíssima fortuna cinematográfica que podemos radicar no veículo concebido para as acrobacias atléticas do grande Douglas Fairbanks, realizado por Allan Dwan, em 1922, no qual se figurava uma longa seqüência de um torneio medieval incontornável como gênero, a preceder a partida de Ricardo Coração de Leão para as cruzadas. No entanto, o filme que constitui a matriz para quase todas as variações modernas é a obra-prima da Warner Bros, "As Aventuras de Robin Hood" (Michael Curtiz, 1938), em que, num glorioso tecnicolor, se cunhavam as características fundamentais das histórias da Floresta de Sherwood: o carisma aventuroso romântico do herói (genial Errol Flynn), as flechadas certeiras em alvos de cartão e inimigos, uma Lady Marian angelical confiada a Olívia de Havilland, um trio inesquecível de vilões, progressivamente tragicômicos, um Rei Ricardo idealizado, um Frei Tuck glutão e belicoso e, sobretudo, uma ligação direta ao imaginário oitocentista, desde o romance histórico de Walter Scott na Idade Média, herdeira das baladas medievais. Todas as versões posteriores, com a possível exceção de "A Flecha e a Rosa" (Richard Lester, 1976, com Robin e Marian envelhecidos e decadentes), partilhavam desta concepção global, mais lendária do que histórica, feita de reconhecíveis fugas, lutas, amorosos encontros e desencontros. Esta introdução torna-se fulcral, porque a recente versão de Ridley Scott, revisionista como chamarão alguns, opta por uma perspectiva totalmente diferente: em vez do regresso de Ricardo, a apaziguar os confrontos entre normandos e saxões ou da recuperação do Estatuto perdido de Robin of Loxley rumo à felicidade eterna dos amantes, partimos da morte do rei, parecemos estar mais próximos da "verdade histórica" com a tentativa da instauração da Magna Carta, e o filme acaba (preparação para novo episódio), depois de mais de duas horas de movimentada ação, onde deveria começar a lenda de Sherwood. Robin (Longstride – seu sobrenome) é filho de um pedreiro, fazendo-se passar por nobre e aproximando-se do velho "Sir" Walter Loxley (o indestrutível Max Von Sydow), Marian (Cate Blanchett de novo em territórios históricos, depois de Isabel I) é uma desmazelada e voluntariosa viúva do verdadeiro Robert Loxley, empenhada em sobreviver das suas terras em tempo de crise, Eleanor de Aquitânia tem um papel ativo na ação, a Inglaterra está ameaçada por uma invasão francesa, o vilão principal, Godfrey (um façanhudo Mark Strong) não faz parte do cânone aventuroso tradicional, João Pequeno e Will Scarlett apenas aparecem como companheiros de cruzadas, o Xerife de Nottingham possui um papel lateral, e Frei Tuck cria abelhas e fabrica hidromel. Dito isto, e apesar da fotografia soturna de John Mathieson, nos costumeiros "tons de caca, tremoço e vomitado" a forçar uma nota "realista" e feiosa, não se pense que "Robin Hood" não exibe emoção a rodos e façanhas aventurosas para todos os gostos: batalhas, emboscadas, duelos à espadeirada, chuvas de setas, assaltos a castelos medievais, estranhas invasões de praias desertas, com proezas subaquáticas. E neste amálgama de condimentos, filmados "à la Ridley Scott", ou seja cruzando efeitos publicitários, estratégias televisivas, planos de grua vertiginosos ou câmaras lentas (felizmente poucas), reside a imagem de marca do filme e a sua principal limitação: ao querer trazer à liça a memória de um certo cinema recente - de "Braveheart" a "Gladiador" ou "Rob Roy" -, Scott joga com a histeria da câmara, a fim de compensar a ausência da espessura mítica, que fez de Errol Flynn "o Robin Hood" cinematográfico por excelência. Nota: 6,0

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