sábado, 20 de agosto de 2011

"Uma Longa Viagem" vence o Festival de Gramado 2011.

Documentário de Lúcia Murat ganhou no total cinco prêmios; argentino "Medianeras" foi eleito o melhor da competição latina

Marco Tomazzoni - 13/08/2011

O documentário “Uma Longa Viagem”, de Lúcia Murat, foi o grande vencedor do Kikito de melhor longa-metragem brasileiro da 39ª edição do Festival de Cinema de Gramado, na noite deste sábado (13), marcada pela chuva e nevoeiro forte na serra gaúcha. No total, o filme ganhou cinco prêmios, mesmo número da ficção “Riscado”, do carioca Gustavo Pizzi. Na competição latino-americana, o eleito pelo júri foi o argentino “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, de Gustavo Taretto.

“Uma Longa Viagem”, que já havia participado do Festival de Paulínia, fala sobre as andanças do irmão da diretora ao retor do mundo na década de 1970, enquanto ela estava presa durante o regime militar. No palco, Murat lembrou que veio a Gramado em 1989, com seu primeiro longa, “Que Bom Te Ver Viva”.

“Esse filme que fiz agora, 22 anos depois, foi muito importante para mim”, disse, para em seguida se lembrar da boa sessão do filme no festival. “O medo de mostrar para o público era muito grande, quase de rasgar o coração. Agradeço muito a quem estava presente e viveu aquele momento.” Não por acaso, “Uma Longa Viagem”, produzido através de um edital da TV Brasil, também venceu o prêmio do júri popular, formado por leitores de jornais de diversas capitais.

Curiosamente, o documentário levou o Kikito de melhor ator, entregue a Caio Blat, que dramatiza em cena as cartas do irmão de Lúcia. “É muito absurdo e inesperado ganhar esse prêmio”, confessou Blat, que segurou o prêmio pelo segundo ano consecutivo – no ano passado, foi escolhido por "Bróder". “Cada vez mais acredito que as melhores histórias do cinema vem das pequenas histórias”, completou o ator, que dedicou o prêmio à mulher, Maria Flor.

O prêmio de melhor ator estrangeiro também foi para o mesmo vencedor de 2010: o mexicano Gabino Rodríguez foi eleito este ano por "A Tiro de Piedra" e, na edição anterior do festival, por "Perpetuum Mobile".

Na premiação nacional, os troféus de atriz e roteiro ficaram nas mãos de Karine Telles, estrela de “Riscado”, também vencedor de melhor direção (Gustavo Pizzi, marido da protagonista), trilha sonora e do prêmio da crítica. Karine lembrou que a rapidez com que o filme foi feito – um ano e meio desde a concepção até a estreia – se deu pela necessidade de contar a história, sobre uma atriz que luta para viver da profissão. “A gente precisava muito perguntar para o mundo qual é o papel da sorte numa carreira”, justificou. "Riscado" chega em breve ao circuito comercial.

Ainda na competição brasileira, também foram premiados o documentário indígena “As Hiper Mulheres” (montagem e prêmio especial do júri) e “O Carteiro” (melhor fotografia). “Ponto Final”, “Olhe pra Mim de Novo” e “País do Desejo” foram embora sem nada.

Entre os latinos, “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, que entra em cartaz no Brasil em setembro, venceu os troféus do júri oficial e do público. A melhor direção foi dividida entre o argentino Gustavo Taretto e o mexicano Sebastián Hiriart, de “A Tiro de Piedra”, ganhador também de roteiro. O dominicano “Jean Gentil” conquistou o prêmio da crítica. Ao anunciar os escolhidos, o jornalista Rubens Ewald Filho destacou que a má qualidade das cópias (boa parte dos concorrentes latinos foi exibida em DVD) prejudicou a competição.

No formato de curta-metragem, “Um Outro Ensaio” ganhou cinco prêmios, entre eles melhor direção e júri popular, mas o Kikito de melhor filme do formato foi para a animação “Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo”. “Geralmente as pessoas esquecem que animação é um filme, com roteiro, fotografia e tudo mais. A gente ganha cabelos brancos e perde um pouco a juventude, mas vale a pena”, disse o diretor Rodrigo John. José Wilker ("A Melhor Idade") e Dira Paes ("Ribeirinhos do Asfalto"), ganharam os prêmios de atuação.

Ao contrário de outros eventos similares, o Festival de Gramado não concede prêmios em dinheiro aos vencedores. Ao longo de toda a cerimônia de premiação, foram exibidas imagens de arquivo com momentos da história do festival, que completa 40 anos em 2012.
Na noite de encerramento, a plateia do Palácio dos Festivais estava lotada, pela primeira vez com gente sentada no chão. Os ingressos para o público em geral foram vendidos todos os dias, desde sexta-feira (05), por valores entre R$ 50 e R$ 130. O restante das poltronas é preenchido por convidados.

Confira a lista completa dos vencedores do Festival de Cinema de Gramado 2011.


Júri Oficial
Melhor longa-metragem brasileiro: “Uma Longa Viagem”, de Lúcia Murat
Prêmio Especial do Júri – longa brasileiro: “As Hiper Mulheres”, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro
Melhor diretor – longa brasileiro: Gustavo Pizzi, por “Riscado”
Melhor ator – longa brasileiro: Caio Blat, por “Uma Longa Viagem”
Melhor atriz – longa brasileiro: Karine Telles, por “Riscado”
Melhor roteiro – longa brasileiro: Gustavo Pizzi e Karine Telles, por “Riscado”
Melhor fotografia – longa brasileiro: Roberto Henkin, por “O Carteiro”
Melhor montagem – longa brasileiro: Leonardo Sette, por “As Hiper Mulheres”
Melhor longa-metragem estrangeiro: “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”
Prêmio Especial do Júri – longa estrangeiro: “Las Malas Intenciones”, de Rosario Garcia Montero
Melhor diretor – longa estrangeiro: Gustavo Taretto, por “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, e Sebastián Hiriart, por “A Tiro de Piedra”
Melhor ator – longa estrangeiro: Gabino Rodríguez, por “A Tiro de Piedra”
Melhor atriz – longa estrangeiro: Margarida Rosa de Francisco, por “García”
Melhor roteiro – longa estrangeiro: Sebastián Hiriart, por “A Tiro de Piedra”
Melhor fotografia – longa estrangeiro: Sergei Saldivar Tanaka, por “La Lección de Pintura”
Melhor curta-metragem: “Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo”, de Rodrigo John
Prêmio Especial do Júri – curta: “Rivelino”, de Marcos Fábio Katudjian
Melhor direção – curta: Natara Ney, “Um Outro Ensaio”
Melhor ator – curta: José Wilker, por “A Melhor Idade”
Melhor atriz – curta: Dira Paes, por “Ribeirinhos do Asfalto”
Melhor roteiro – curta: Rodrigo John, por “Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo”
Melhor fotografia – curta: Jacques Dequeker, por “Polaroid Circus”
Melhor montagem – curta: Mair Tavares e Tina Saphira, por “Um Outro Ensaio”


Júri Popular
Melhor longa-metragem brasileiro: “Uma Longa Viagem”, de Lúcia Murat
Melhor longa-metragem estrangeiro: “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, de Gustavo Taretto
Melhor curta-metragem: “Um Outro Ensaio”, de Natara Ney


Prêmio da Crítica
Melhor longa-metragem brasileiro: “Riscado”, de Gustavo Pizzi
Melhor longa-metragem estrangeiro: “Jean Gentil”, de Laura Guzmán e Israel Cárdenas